quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Trabalhar com o Coração

" Para escolher sua profissão, pense em algo que goste de trabalhar e que te faça feliz mesmo que em 80% das vezes as coisas dêem errado. Você saberá que fez a escolha certa se aqueles 20% restantes compensarem os 80% de dor de cabeça", uma professora minha me disse, há alguns anos. E eu ficava pensando: "como raios é possível?", pois parecia - para a minha mentalidade "aborrecente" - bem absurdo a proporção de desastres para a quantidade de realizações.

Aí, certo dia, enquanto cavocava no flickr atrás de fotos de hamsters e outros roedores mimosos, eu acabei no álbum de uma moça que trabalhava com miniaturas ( http://www.flickr.com/photos/toothfairyminiature/ ). Lembro que passei mais de três horas olhando e olhando de novo as fotos, e a cada vez que eu examinava as imagens apareciam mais detalhes que eu não tinha percebido na primeira (ou segunda, ou terceira, ou décima) vez. Então, decidi que ia fazer que nem ela fazia. Simples assim. Dia seguinte, corri para a única loja com alguma variedade de materias de artesanato e procurei pela tal polymer clay, luna clay e sei-lá-o-que-mais clay que eu tinha visto no site. E daí descobri que essas coisas não tinham na loja. Depois procurando pela internet, descobri que não tinha no Brasil. Só uma loja em São Paulo, que oferecia uma variedade merreca de cores de porcelana plástica.

Ah, decepção.

Tudo bem, vai com porcelana fria, mesmo. Biscuit. Até aquele momento, achava que era de comer. Ledo engano. E na loja,na seção de artigos para biscuit, tinha apenas ferramentas plásticas gigantescas, caras e feias. Sem saber o que fazer, mandei um email para a moça internacional, que me respondeu o seguinte: para começar, uma caneta, uma agulha e um estilete já são o suficiente. Menos mal, pensei, isso tem em casa. Olhei alguns tutoriais que tinha no site dela, e botei a mão na massa.

E daí descobri por que biscuit se chamava COLD porcelain. Era mais prático por que não precisava assar, como as porcelanas plásticas - elas simplesmente secavam naturalmente, em contato com o ar. Beleza. Isso significava que, antes de eu terminar, elas já ficavam borrachudas demais para fazer qualquer coisa. Quanto maior a quantidade de massa que você manipula, mais demora para secar. O problema é que, para miniaturas do tamanho da unha, a quantidade de massa manipulada por vez era do tamanho de um grão de arroz. E tchau para uma montanha de biscuit borrachudo injustamente desperdiçado. Bora pra loja de novo, comprar mais material e treinar para fazer as coisas rapidinho em miniatura para que elas não secassem antes de eu conseguir moldá-las no formato que eu queria.

( http://www.flickr.com/photos/windcastle/3105006163/in/set-72157611147352641/ ) - A primeira leva de cupcakes que viraram brincos, balançando no fio do meu HD externo (por que eu não tinha outro lugar para pendurar que não encostasse em nada).

Quando passou a semana das provas e eu fui pegar a massinha que tinha sobrado - e que eu cuidadosamente tinha embalado hermeticamente com filme plástico - secou. Simples assim. E mais de 20 reais de material indo pro lixo. Depois me contaram que eu tinha que deixar na geladeira, mas daí já era tarde demais para essa primeira leva de materias desperdiçados. 'Paciência, faz parte", pensei, enquanto a minha vontade era mastigar a cara de alguém só de raiva. Todavia, eu estava feliz com o resultado, e faria tudo de novo se fosse preciso.

Algum tempo depois, eu parei para fazer as contas e ver a proporção entre o tempo de trabalheira e o tempo de satisfação: os resultados não ficavam tão longe dos 80/20 que a minha professora havia me dito. Acho que trabalhar com o coração, entre outras coisas, é isso. É trabalhar em algo e ser feliz com isso, mesmo com todas as incomodações, descabelamentos e solavancos que existem pelo caminho. É se divertir indo atrás de um objetivo. É ficar satisfeito com o resultado, mesmo que o caminho seja difícil. É se alegrar com um resultado ruim, só pela quantidade de conhecimento que adquiriu durante o percurso. É estar feliz consigo mesmo.

***
Esse é o texto que eu mandei pra promoção trabalhar com o coração da lugastal. Como não ganhei, eu resolvi postar aqui xD Bjo, boa semana a todos, até!

5 comentários:

Vanessa Biali disse...

Que lindo texto! Amei!
É verdade, amar o processo (apesar de eventuais "desastres") é um bom indicativo de que amamos o que fazemos.
Beijos,
Vanessa

Luciana F. Damiano disse...

Pois deveria ter ganho!!
Me encantei com seu texto. Que bom que nunca desistiu. Parabénsn pelo esforço e dedicação!
Seu trabalho é muito bonito.
bjks

Isadora disse...

I couldn't agree more!
Me identifiquei muito com seu texto, algumas partes são a minha cara!
As pessoas não entendem certas paixões que temos, mesmo que seja apenas um hobby como no meu caso. Mas é isso mesmo, a proporção é 80/20 e ainda assim a gente gosta, gosta mais do que ir para um trabalho chato onde o valor da hora/trabalho é bem maior.
Depois tenho que responder seu email, vou ver se até o fim de semana eu consigo. As coisas estão hectic por aqui!
Bjks

Pizinha Artesanatos disse...

Lindo texto, devia ter ganho a promoção.
Acho lindos e apetitosos teus trabalhos, parabéns.
Bjs,

Joyce

Izabel Biali disse...

Que lindo texto.
Quando a gente faz as coisas com amor e paciência, não existe dificuldade.
Parabéns pelo esforço.
Beijo
Izabel